O que é arte Espírita?
Numa
sociedade alheia à prática de refletir e saturada por produtos ditos
artísticos, pouquíssimas pessoas se sentem curiosas por um convite para debater
a natureza da arte.
A arte
espírita é controversa pela variedade de pontos de vista defendidos por aqueles
que a produzem. Eles dividem-se, grosso modo, entre a necessidade de fazer uma
arte “direta”, difusora clara do espiritismo, e a preferência por levar
“indiretamente” a mensagem espírita ao público. O problema é que, mesmo entre
os espíritas, quase ninguém conhece essa arte.
E por que
ela é ignorada? Por que, mesmo diante da missão auto-imposta por muitos desses
artistas de usar a arte como meio de divulgação do espiritismo, a arte espírita
permanece no anonimato? Existem notórias razões de natureza cultural, técnica e
financeira para isso. Mas não vou me deter nelas. São questões que demandam
mudanças de mentalidade em todo o movimento espírita. E acredito que este aqui
seja o espaço ideal para tratar de aspectos mais essenciais do problema.
Deficiências cuja superação cabe, antes de tudo, ao próprio artista espírita. É
o caso do que poderíamos denominar falta de uma concepção clara sobre o que
seja arte..
O
pressuposto é simples: fazemos, e incluo-me nisso, música, teatro, poesia,
dança. Somos espíritas e queremos colocar o espiritismo naquilo que produzimos.
Ao abordar, “direta” ou “indiretamente”, temas espíritas em nossas obras,
consideramo-las arte espírita. E eis onde termina nossa reflexão sobre o tema.
Não nego o caráter propagador que poemas, espetáculos e canções possam assumir
em benefício do espiritismo. O problema começa quando o principal objetivo
desses trabalhos é divulgar idéias, princípios e conceitos. Quando o que era
pra ser arte nasce do mesmo impulso racional que poderia originar artigos,
livros e palestras. Aí podemos sim ter poemas, espetáculos e canções. Só não
teremos arte.
“Tal como a palavra, transmitindo os
pensamentos e experiências dos homens, serve para unir as pessoas, a arte serve
exatamente da mesma forma. A peculiaridade desse meio de comunhão (...) é que
pela palavra um homem transmite seus pensamentos a outro, enquanto que com a
arte as pessoas transmitem seus sentimentos umas às outras”
Para além
da tradicional associação entre arte e beleza, o filósofo russo Leon Tolstoi
defende que só há arte quando algum sentimento se soma ao desejo sincero de
compartilhar. Na medida em que nasce de sentimentos e a eles conduz, a arte teria um papel determinante nas
transformações morais por que passou até hoje a humanidade. A verdadeira obra
de arte funcionaria, assim, como meio por excelência de comunhão entre todos os
que já passaram por este mundo.
“(...) A arte é sim um meio de intercâmbio
humano, necessário para a vida e para o movimento em direção ao bem de cada
homem e da humanidade, unindo-os em um mesmo sentimento (...) Assim, a
capacidade humana de contagiar-se pelos sentimentos de outras pessoas por meio
da arte, proporciona ao homem acesso a tudo que a humanidade experimentou antes
dele no domínio do sentimento e aos sentimentos vivenciados por seus
contemporâneos.”
Diante
disso, a pergunta necessária é: a técnica artística utilizada pelos espíritas
tem dado origem a obras de arte? Para fazer música, basta saber jogar com
melodia, harmonia e ritmo (a letra é um elemento opcional, mas muito valorizado
na música religiosa). Para fazer poesia, métrica, rima e ritmo dão conta do
recado. O teatro exige ator, platéia e uma idéia, enquanto a dança demanda
corpo e ritmo. Qualquer um pode executar com maestria esses ofícios, desde que
resolva se dedicar com afinco ao estudo e à prática deles. É uma simples
questão de exercício, prático e intelectual.
Mas há uma enorme distância entre ser músico,
poeta, ator ou dançarino e ser artista. Pessoas que dominam essas atividades
essencialmente técnicas podem produzir e executar inúmeros trabalhos movidos
pelo desejo de vender idéias, ganhar dinheiro ou chocar pessoas, sem que haja
um único sentimento sincero por trás dessa iniciativa. Conseguem produzir
beleza, mas nem sempre arte. Do mesmo modo, homens e mulheres sem a menor noção
teórica podem produzir autênticas obras de arte. Basta darem vazão ao que
sentem através de sons, gestos, formas e traços compreensíveis para
sensibilizar e até emocionar outras pessoas. Sua arte sincera toca, independente da preocupação estética.
De modo
geral, os trabalhos que se propõem a ser arte espírita não pecam por falta de
conteúdo. O equívoco parece estar (e
aqui, mais uma vez, incluo minha própria produção poética e dramatúrgica) na natureza
desse conteúdo. Em lugar de um sentimento sincero, humano e, por isso mesmo,
universal que o autor deseje compartilhar, há idéias e crenças particulares que
ele quer divulgar. Diante da vontade de fazer um trabalho que propague o
espiritismo, escrevemos e compomos obras que desenvolvam conceitos espíritas. É
uma peça sobre reencarnação, uma tela sobre mediunidade, um poema sobre
pluralidade dos mundos habitados... Mesmo uma música sobre caridade ou uma
dança sobre humildade podem carecer de substância artística quando o desejo de
pregar uma verdade espírita se sobrepõe à existência de um sentimento genuíno
que o autor queira dividir. E não é nada difícil perceber quando é a razão que
está no impulso criador de uma obra...
Estaria aí
uma condenação ao propalado objetivo de divulgação doutrinária que se atribui à
arte espírita? Não exatamente. Se a
proposta é fazer arte, deixemos de lado o ímpeto pregador de “verdades espirituais” e assumamos o desejo de compartilhar nossos
sentimentos mais autênticos e humanos. Desde que nasçam genuinamente da
vivência espírita, tudo o que produzirem será mais arrebatador para divulgar o
espiritismo do que o panfletarismo raciocinado. Só assim haverá uma Arte
Espírita, contagiante, envolvente, capaz de sensibilizar o ser humano,
independente de suas crenças, e de abrir, como pretendia Kardec, um novo
capítulo na história da humanidade.
ROMARIO
FERNANDES
Retirado
de: Arte espírita – O portal da arte
[1] Entre outros
aspectos, escolhi-o por sua visão de mundo. Defensor ardoroso de uma
religiosidade moral, repudiava dogmas e sacramentos. Pregava a fraternidade
universal como realização concreta do ideal cristão na Terra. E acreditava no
progresso social através da evolução gradativa da razão e do sentimento dos
homens. Em síntese, era um revolucionário afinado com a proposta espírita de
compreensão da realidade.
[2] TOLSTOI,
Leon. O que é arte? A polêmica visão do autor de Guerra e Paz (tradução: Bete
Torrii), São Paulo: Ediouro, 2002, p. 73.
[3] Idem, ibidem, p.
77.
[4] Cf. KARDEC, Allan. “A arte pagã, a arte cristã e a arte espírita”, in Obras Póstumas, 14ª edição, Rio de Janeiro: FEB, 1975.
[4] Cf. KARDEC, Allan. “A arte pagã, a arte cristã e a arte espírita”, in Obras Póstumas, 14ª edição, Rio de Janeiro: FEB, 1975.
Primeiro Verbo
“Tenho a Doutrina Espírita por fonte de bênçãos incessantes. A Arte, por isso mesmo, pode e deve traduzir as bênçãos a que nos reportamos, com grande vantagem na divulgação dos nossos princípios e ideais.
Os empreendimentos artísticos, em nosso modo de pensar, são convites e apelos benéficos para quantos se aproximarem das lições doutrinárias, no sentido de se lhes assimilar a verdade e a beleza.”
Chico Xavier
A arte é a manifestação do bom e do belo através de uma ação. Qualquer que seja a sua forma, tem a intenção de tocar o coração e a alma dos indivíduos para alguma causa. Na doutrina, mais do que nunca, ela atua como elo de ligação entre as pessoas e os ensinamentos cristãos.
Quem é que nunca se encantou com uma linda música, ou até mesmo se renovou ao derramar uma lágrima lendo aquele belo romance espírita? A arte, atuando como instrumento de reflexão e renovação, baseado nos ensinamentos do Irmão Maior, é um instrumento divino para a demontração de vitalidade e progresso do nosso movimento renovador.
Baseados nisso e em nosso pézinho no mundo das artes, criamos este blog, esperando poder ser facilitadores para a propagação da arte espírita, que tanto nos engrandece.
Sejam todos bem vindos ao Potenciarte, a casa de todos os apreciadores e trabalhadores da arte espírita cristã.